A obrigação de ser feliz e a vivência das emoções

Em tempos de redes sociais é natural compartilhar as conquistas e imagens dos momentos felizes. Tudo bem! A ideia não é transformar a internet no muro das lamentações. Todavia, carrego uma pulga atrás da orelha há um tempo: a quase obrigatoriedade de sermos felizes o tempo todo e os efeitos que isso tem causado nas pessoas. Nada contra a felicidade, aliás, tenho-a em alta conta! Porém, a reflexão que quero trazer hoje é: como é lidar com o fato de que a felicidade não é uma constante, mas fluida, transitória, como tudo na vida?

O questionamento não surge do nada. Aparece por meio de conversas, leituras e no consultório. Não é incomum aparecem clientes angustiados, sob efeito da obrigação de serem felizes o tempo todo e lidarem com as situações da vida de forma idealizada. O sofrimento, a dor, a tristeza, precisam ser eliminados a todo custo. Quem nunca ouviu um “engole o choro”, “não chora, vai passar”. E seguimos “engolindo” o choro e perdendo oportunidades de sentir, pensar sobre o choro, a tristeza, a dor, coisas tão inerentes ao Ser humano.

O choro é comumente relacionado à fragilidade. Em todo canto tem espalhado um gatilho que nos coloca a necessidade de ter sempre um sorriso estampado na cara, atribuindo às nossas lágrimas sentimentos de fraquezas, culpa. Como se derramá-las atestasse nossa incompetência para gerir nossas vidas. “Homem não chora”, “seja forte”. E o que é ser forte? Não é um ato corajoso entrar em contato com essas dificuldades? Quem precisa (e consegue) ser forte o tempo todo?

Negar o que se sente é negar a si mesmo. Porque, afinal, tudo que vivemos e sentimos nos constitui enquanto seres únicos. E você, tem fugido de si? Tem dado espaço para suas tristezas? Já construiu a sua percepção sobre o que o(a) faz feliz?

Nota: O texto se refere às emoções, que fazem parte da vida e são transitórias. O sentimento de melancolia persistente associado à depressão deve ser olhado

com cuidado e com auxílio profissional.